0131 - Thirteen - Travis [2008]

Pra começo de conversa...

É estranho saber que estão classificando como power pop o som feito por bandas como Cine e Restart. E já vou dizendo que não sou afeito a um som mais pasteurizado, de melodia manjada. Dizer que as bandas supracitadas pertencerem a um novo movimento intitulado power pop é no mínimo um grande erro. Não quero me estender na definição do estilo, mas é preciso dizer que o power pop não nasceu agora. Cronologicamente falando, este negócio tem no mínimo 40 anos; portanto, como diria Paul McCartney, Your Mother Should Know meu amiguinho – e caso queira mais informações, clique aqui. Enfim...

Infelizmente, a distorção feita pela mídia, o ostracismo existente e a única certeza na vida de qualquer ser humano, contribuem ainda mais para a total desinformação do grande público. E foi com muito pesar que o rock, a música e os fãs receberam no dia 17 de Março de 2010 a notícia da morte repentina de Alex Chilton, guitarrista da banda norte-americana Big Star – este sim, um precursor do power pop.

Garoto prodígio, aos 16 anos Chilton já fazia muito sucesso com a canção The Letter na banda Box Tops, onde atuava como vocalista principal. Com o fim prematuro do Box Tops em 1970, Chilton foi para Nova Iorque aprimorar sua técnica na guitarra e no vocal. Depois de um ano, voltou a sua terra natal, Memphis, e foi convidado para formar o se Big Star pelo seu amigo Chris Bell.

Bell e Chilton já se conheciam antes de formarem o Big Star. Ambos viviam em Memphis e ambos vivenciaram a explosão dos Beatles na América em 1964, quando tinham mais ou menos 13 anos de idade. Inspirado pela música dos garotos de Liverpool e pela febre causada pela British Invasion, Chilton compôs a canção Thirteen, uma das baladas mais bonitas e tristes de todos os tempos em minha opinião. Esta obra prima que relata justamente todo o impacto causado pelo rock’n’roll na cabeça de dois adolescentes (no caso, do próprio Chilton e seu amigo Chris Bell), foi considerada em 2006 umas 500 melhores canções de todos os tempos pela revista norte-americana Rolling Stone.


Thirteen faz parte do primeiro álbum do Big Star, intitulado #1 Record (1971). Apesar de nunca ter alcançado o primeiro lugar nas paradas de sucesso, este disco é o favorito de muitos críticos e de muitas revistas e mídias especializadas. Muito além da falta de sucesso, este disco deu início a um “culto” pela obra do Big Star. A banda até hoje é uma das mais influentes da história do rock. Bandas como R.E.M., Replacements e Wilco já declararam sua adoração pelo Big Star. Os escoceses do Teenage Fanclub (talvez os mais verdadeiros discípulos do power pop na atualidade) lançaram em 1993 um disco chamado Thirteen, numa clara referência e homenagem a esta composição de Chilton.

Muitos artistas já deram sua interpretação para Thirteen, entre eles Evan Dando (Lemonheads), Elliott Smith, Wilco e até os ingleses do Garbage (numa bela versão eletrônica). Entretanto, para mim, a cover feita pela banda Travis é a mais bonita. Escoceses como o Teenage Fanclub, o Travis, assim como o Big Star, sempre se diferenciou pela qualidade de suas belas baladas, romanticas e melancólicas, como Why Does It Always Rain On Me ou Humpty Dumpty Love Song.

A cover do Travis foi gravada em 2008 num show em Los Angeles durante a turnê do último disco, Ode To J Smith. A qualidade do arranjo empregado (mais acústico por sinal), fez com que a música da Alex Chilton caísse com uma luva para a banda.