Todos nós, sem exceção (ou com algumas exceções, vai), chegamos, em determinado momento da vida, em um ponto que eu chamaria de "ponto de inflexão pró-responsabilidade". Também é conhecido como mergulho definito no "mundo adulto", ou como diriam nossos avós, aquele momento em que o sujeito "vira homem de respeito".
Abro essa postagem dizendo isso por dois motivos. Primeiro porque eu pessoalmente começo a sentir a chegada desse ponto de inflexão. Beirada dos 30, progenitores no rumo para a aposentadoria (profissional e/ou psÃquica), e aquela voz escrota sussurrando cada vez mais forte no ouvido: "agora é com você rapaz.. o que você está construindo para você e para os outros? qualé a tua?" Em segundo lugar, porque é sobre esse famigerado divisor de águas existencial que nos fala (nas entrelinhas, claro) Belchior em sua clássica canção Como Nossos Pais.
Belchior é um cearense bigodudo que, junto com Fagner, Ednardo e outros, impactou a música popular brasileira no começo dos anos 70 dentro de um grupo de músicos e compositores que ficou conhecido como "pessoal do Ceará". Dono de um estilo de composição que o caracterizou como uma espécie de "trovador-pop-rock-sertanejo-urbano-tupiniquim" e de uma voz potente e peculiar, lançou no decorrer daquela década vários petardos que fizeram sucesso nacional como Velha Roupa Colorida, Apenas Um Rapaz Latino Americano, Paralelas, e a canção objeto dessa postagem.
Como Nossos Pais foi lançada em 1976 como uma das faixas do álbum Alucinação, a "bolacha" mais bem sucedida comercialmente do cantor. Aqui "El Bigodón" interpreta a canção em uma apresentação relativamente recente:
Começou a cantar aos onze anos de idade no Rio Grande do Sul, em um programa de rádio para crianças chamado O Clube do Guri, na Rádio Farroupilha. Aos 16 anos já tinha lançado um LP, e desenvolveu a carreira inicialmente (nos anos 60) trabalhando com a bossa nova, inclusive co-apresentando o programa televisivo O Fino da Bossa, junto com Jair Rodrigues. A partir daà desenvolveu-se como cantora e abarcou outros estilos, registrando interpretações que passavam pelo samba e por outros temas mais populares.
No mesmo ano em que Belchior lançou Como Nossos Pais, Elis "pariu" uma versão cover, que foi registrada no álbum Falso Brilhante, trabalho resultado de uma temporada de shows em que ela interpretou, além da citada faixa, a canção Velha Roupa Colorida, o que ajudou de forma fundamental a ascenção da carreira do bigode cearense.
Eu arrisco dizer, que, se não for o melhor, esse é um dos TOP 3 no que se refere a covers irretocáveis feitos em terras brasileiras. Um daqueles raros casos em que a cópia eclipsou totalmente a original. Garanto que muitos que poderiam conferir essa postagem conhecem a música, a "tal da Elis", mas irão questionar: "Bigode cearense? Aquele tiozinho das antigas que sumiu e foi descoberto no Uruguai?"
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ERRATA (11/02/2017): Após apontamento de um leitor do nosso blogue, foi verificada que a informação constante na Wikipedia (em 05/12/2010), base informativa cronológica para essa postagem, de que Belchior lançou comercialmente a música antes da cantora Elis Regina está incorreta.
Em apuração feita por outras fontes informativas, foi constatado que o álbum Falso Brilhante, de Elis Regina, foi lançado em fevereiro de 1976, enquanto Alucinação, de Belchior, foi lançado em maio de 1976.
Assim sendo, tecnicamente, não trata-se de um cover de Elis, mas sim do contrário, se levarmos em conta o critério de que um cover é uma regravação não necessariamente comercial (que pode ser uma releitura ou uma versão em outro idioma) feita por artista (mesmo que compositor da canção objeto da releitura), em cronologia posterior ao lançamento original (álbum/single/EP/apresentação).
Belchior, em mais uma de suas excentricidades, é cover de si mesmo. ;)
P.S. 1: O blog até a data da 1ª edição dessa postagem não havia se deparado com essa questão conceitual do que seria um cover nestas circunstâncias - um artista que compõe uma canção, porém, a lança comercialmente depois de outro artista já o ter feito. Dessa maneira, mantém o texto original, com o respectivo adendo desta errata.
P.S. 2: Obrigado ao leitor desconhecido pela observação, estamos em constante aprimoramento e atualização de nossas postagens e critérios editoriais.
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ERRATA (11/02/2017): Após apontamento de um leitor do nosso blogue, foi verificada que a informação constante na Wikipedia (em 05/12/2010), base informativa cronológica para essa postagem, de que Belchior lançou comercialmente a música antes da cantora Elis Regina está incorreta.
Em apuração feita por outras fontes informativas, foi constatado que o álbum Falso Brilhante, de Elis Regina, foi lançado em fevereiro de 1976, enquanto Alucinação, de Belchior, foi lançado em maio de 1976.
Assim sendo, tecnicamente, não trata-se de um cover de Elis, mas sim do contrário, se levarmos em conta o critério de que um cover é uma regravação não necessariamente comercial (que pode ser uma releitura ou uma versão em outro idioma) feita por artista (mesmo que compositor da canção objeto da releitura), em cronologia posterior ao lançamento original (álbum/single/EP/apresentação).
Belchior, em mais uma de suas excentricidades, é cover de si mesmo. ;)
P.S. 1: O blog até a data da 1ª edição dessa postagem não havia se deparado com essa questão conceitual do que seria um cover nestas circunstâncias - um artista que compõe uma canção, porém, a lança comercialmente depois de outro artista já o ter feito. Dessa maneira, mantém o texto original, com o respectivo adendo desta errata.
P.S. 2: Obrigado ao leitor desconhecido pela observação, estamos em constante aprimoramento e atualização de nossas postagens e critérios editoriais.
É, essa interpretação feita pela Elis é a versão definitiva. Por muitos anos fiquei sem saber que essa canção era mesmo do Belchior. Aliás, a Elis sempre ganhou muitas boas canções de presente... Milton Nascimento, Tom, Belchior, etc. já municiaram o arsenal de boas músicas da cantora!
ResponderExcluirah, essa música é boa demais! Belchior tem músicas muito inspiradas, como essa postagem :)
ResponderExcluirApesar do jeito meio fanho de ser, gosto do Belchior. Ele tem músicas muito boas em seu repertório.
ResponderExcluirJá ia esquecendo: a comparação de Elis e Janis talvez seja mais relativa ao ponto de destaque que cada uma alcançou na música, mas em todos os aspectos como cantora (tecnica e emotivamente, por assim dizer), Elis está anos-luz à frente.
ResponderExcluirP.S.: Eu gosto da Janis Joplin também...
Estive pensando que a mensagem dessa música é tão poderosa que ela ficou marcada (exatamente essa versão da Elis) na nossa geração também - eu que nasci um ano depois de ela ser gravada. Acho que é um das impressões mais fortes da MPB que recebi durante minha infância e adolescência.
ResponderExcluirMuito boa a postagem ;)
A postagem é velha e não sei bem se alguém ainda cuida do site, mas vou comentar rs. Há uma inverdade no texto: embora quem compôs a musica seja o Belchior, quem primeiro gravou foi a Elis, então não é bem um cover.
ResponderExcluirObrigado pela observação. Vamos rever esta postagem.
ExcluirPostagem revista e atualizada com um adendo retificador. Agradecemos novamente pela observação pertinente.
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