Dia 27 de novembro, domingo passado, o Fado ganhou o titulo de Patrimônio Imaterial da Humanidade, dado pela Unesco. Como uma descendente direta da terrinha, nada mais obrigatório que eu poste algo aqui. Em Lisboa vi uma dessas bolsas de souvernires para turistas que explica bem o que é o Fado, de modo engraçado, mas explica: o desenho era um homem tocando uma guitarra portuguesa e uma mulher cantando e chorando muito. Não resisti a tirar uma foto da sacola:
A origem do nome para nós, brasileiros, parece meio perdida no tempo, mas ainda se usa esse termo em português, fado = destino. E o destino dos portugueses sempre foi muito sofrido, ou pelo menos eles são os campeões da dor de viver (converse cinco minutos com meu pai
para você ver rs). Ou talvez eles sejam campeões em expressar essa dor em forma de música e poema.
para você ver rs). Ou talvez eles sejam campeões em expressar essa dor em forma de música e poema.
Quando se ouve um Fado é como se sentisse saudade de algo... algo que não se sabe o que é... isso está muito Florbela Espanca ou Fernando Pessoa para você? Pois! (Como diriam os lusitanos). Decidi postar uma das músicas mais famosas desse estilo musical, ela já foi gravada por Roberto Carlos, Nelson Gonçalves e me lembro quando criança de ouvir até o Roberto Leal cantá-la.
(em tempo: Roberto Leal ganhou uma espécie de Casa dos Artistas em Portugal e agora vende um livro autobiográfico recheado com auto-ajuda - em Portugal o chamam de "brasileiro" como chamam todos os que imigraram para o Brasil - o livro parece vender muito bem na terra de Camões, que talvez se revire no túmulo...)
Depois de toda essa história, vamos à representante máxima desse estilo musical que, sem dúvida, foi Amália Rodrigues, A Rainha do Fado, que cantou pelo mundo a dor de ser português. Amália nasceu em Pena (não é pena de dó rs é uma freguesia), Lisboa. Era muito tímida quando criança, mas cantava brincando com os amiguinhos e todos começaram a pedir que ela cantasse, pois todos ficavam encantados com a voz da menina que cantava Carlos Gardel.
De família pobre, logo cedo começou a ajudar a família com as despesas, foi bordadeira, engomadeira e sempre estava disposta a novos trabalhos. Foi quando, aos 15 anos, trabalhando de vendedora de frutas numa feira, é descoberta para integrar um grupo de pessoas que cantavam em festas populares da região. Mas a carreira de cantora só iria começar quando ela se apresenta, aos 20 anos, numa peça de teatro no centro de Lisboa. Daí para frente sua carreira de cantora se espalhou pelo mundo. Chegou até a cantar nos antigos cassinos que existiam no Rio de Janeiro.
Fazendo shows pela Europa e Estados Unidos, torna cada vez o fado mais conhecido, por outro lado Amália sofre censura para cantar alguns deles em Portugal (ditadura de Antonio de Oliveira Salazar que só durou 41 anos e estagnou o país) considerados fados de cunho político e anti-regime salazarista. Teve uma carreira brilhante que só teve fim em 1999, aos 79 anos; de forma repentina, Amália passou para o outro lado do Tejo.
O maior expoente do Fado na atualidade também é uma mulher. Marisa dos Reis Nunes ou Mariza (com "z" na vida artística).
Mariza é moçambicana de nascimento, mas foi criada desde os 4 anos de idade em Lisboa. Sua história é muito parecida com a de Amália, começou a cantar ainda criança no restaurante do pai, o qual era visitado por vários fadistas famosos, aos 7 anos, ela os acompanhava no fado enquanto os servia. O pai, português, foi a grande influência musical: ouvia fado em todas as refeições e aos 5 anos deu de presente para Mariza um xale, peça fundamental no vestuário das cantoras de fado.
Na escola era a atração por sua bela voz, só mais tarde veio a cantar profissionalmente, cantando vários estilos musicais, além do Fado. Logo é descoberta e começa a cantar a convite de vários países, mas seu primeiro CD só é lançado em 2001, Fado em Mim, uma homenagem a Amália Rodrigues. Daí seguem-se CDs, aplausos e prêmios pelo mundo a fora.
Em 2005 ela até participou do Live 8, se apresentou na cidade de Cornwall, Inglaterra. Seis CDs e muitas participações internacionais levando o Fado a todos como aqui e aqui. Ou... aqui, apesar de não ter encontrado uma boa gravação justamente dessa música: