0319 - Pára-Raio - Lani Hall [1981]

Nossa língua pátria, adotada do povo português, apresenta-se como um desafio enorme para os estrangeiros. Além das conjugações verbais complicadas, temos muitas palavras de som anasalado como “mão”, “cão” ou “pão”, que para um falante nativo de português é algo bem simples, mas que são praticamente impronunciáveis para um norte-americano por exemplo. Somando-se a isto, como explicar que o artigo em português precisa concordar com o gênero do substantivo quando, por exemplo, a palavra “mão”, que termina com a letra “o”, é feminina e “pão” que também termina com “o” é masculina?

Mas para a norte-americana Lani Hall, cantora e compositora nascida em Chicago, casada com Herb Alpert – famoso trompetista e diretor executivo da gravadora A&M – estes empecilhos da língua portuguesa são praticamente inexistentes. Aliás, para ela, a língua portuguesa parece ser seu idioma nativo, tal a sua intimidade com o nosso idioma.

Lani foi apresentada ao idioma português por intermédio de Sergio Mendes, um dos músicos brasileiros mais conhecidos fora do Brasil. Nos anos 60, Sergio, morando em Los Angeles e depois de ter trabalhado com Jorge Ben Jor nos EUA, teve a genial ideia de americanizar as músicas brasileiras por meio de um grupo vocal. Ele queria contratar cantoras americanas e abrasileira-las. Para tal, colocou um anúncio no jornal e conseguiu contratar justamente Lani. A partir daí, Sergio passou a ensina-la intensamente letras de músicas brasileiras foneticamente. 

Este aprendizado fez com que a Lani se apaixonasse por nossa música. Durante sua participação no grupo Sergio Mendes & Brasil '66 e em sua carreira solo, Lani interpretou por diversas vezes várias jóias de nossa MPB. Entre estas jóias, Lani gravou em 1981 uma versão de Pára-Raio, ótimo samba de Djavan lançada no seu disco A Brazileira - já publicamos aqui uma outra versão feita pela Lani para o clássico Eu e A Brisa do Johnny Alf.

Devido a sua complexidade, Pára-Raio poderia ser classificada como um tipo único de “bossa trava-línguas”, o que a torna difícil até mesmo para um brasileiro nativo cantá-la.


A primeira audição e sem saber quem é Lani Hall, fica até difícil de acreditar que não se trata de uma cantora brasileira. Além de cantar bem, quase sem sotaques, Lani conseguiu empregar nesta sua interpretação toda sua "brasilidade americana"; entre um pára-raio e catavento, percebe-se um sotaquezinho quase carioca. 


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