Não vejo mal nenhum, obviamente, em gostar apenas de músicas estrangeiras. Eu sempre gostei, principalmente do rock inglês. Gosto também do rock nacional é claro, mas confesso que sempre valorizei mais o que vinha de fora. Certo interesse por músicas brasileiras só ocorreu em 1999, quando quase sem querer assisti a um show de Caetano (veja esta história aqui). Porém só com mais idade vim mesmo a ter mais atenção para com o cancioneiro brasileiro. Comecei pelas obras de Gil, Caetano é claro, Chico e Milton Nascimento.
Sobre Milton, gostava e gosto muito de sons como Coração de Estudante, Maria Maria ou Canção da América, hits dos anos 80 ligado aos movimentos polÃticos. Dentro da minha ignorância, Milton se resumia à quelas músicas. Só com uns trinta e poucos vim a comprar uma edição em CD de Clube da Esquina e depois voltei a ouvir muito Milton motivado pela cantora Esperanza Spalding, que fez uma bela cover de Ponta de Areia do disco Minas de 1975 – já publicada aqui neste post. Shame on me!
O Cio da Terra foi originalmente composta por Milton em parceria com Chico Buarque em 1977 lançado no single chamado Milton e Chico.
A versão original é muito boa. Entretanto, quando ouvimos a versão lançada em 1980 pela dupla Pena Branca e Xavantinho no LP intitulado Velha Morada realmente ela ganha uma outra conotação, trazendo um sentimento totalmente agrário, que nos transporta diretamente para o trabalho do homem da roça em harmonia com sua terra. É realmente uma cover sensacional:
Além da dupla, vários artistas nacionais e da América Latina também fizeram grande releituras desta canção, entre eles a grande Mercedes Sosa e a cantora cubana Omara Portuondo em parceria com Maria Bethânia.
Mas, a mais surpreendente de todas as releitura feitas talvez seja mesmo a versão feita pelo grande guitarrista escocês Bert Jansch. Conhecido como o Bob Dylan Britânico e dado por Neil Young como sendo simplesmente "o Jimi Hendrix das guitarras acústicas", Bert foi o fundador do Pentangle, o mais importante grupo de folk-jazz-rock acústico da terra da rainha.
Em 1980 após dar um “break” com o Pentangle, Bert gravou um disco solo chamado Thirteen Down creditado a Bert Jansch Conundrum, um projeto feito em parceria com os multi-instrumentistas Martin Jenkins e Nigel Portman-Smith e com o baterista Luce Langridge. Este trabalho traz canções de própria autoria de Bert e duas versões. Segundo o jornalista Jim Newson do site Allmusic, Thirteen Down “está entre os melhores trabalhos da extensa carreira de Bert e é essencial para qualquer apreciador de acoustic-folk”. É deste celebrado LP que encontramos uma adaptação de autoria do próprio Bert Jensch em inglês para a canção O Cio da Terra intitulada Sweet Mother Earth.
Confira o próprio Bert Jansch explicando a origem de Sweet Mother Earth numa apresentação em 1991, confundindo o local de origem da música (South Africa com South America) e, em seguida, tocando lindamente Sweet Mother Earth de posse de sua lendária guitarra acústica:
Como bônus track desta postagem, compartilhamos a emocionante versão da cantora australiana fã de música brasileira Diana Clark com o coral Melbourne Millennium e o guitarrista Doug de Vries feito no ano de 2008.
Não descobrimos os motivos que levaram Bert Jansch fazer uma adaptação de O Cio da Terra. Penso que tenha sido a projeção internacional de Milton desta época que chamou a atenção de Bert. Ou até mesmo a versão de O cio da Terra feito para o disco do Milton de 1979 chamado Journey To Dawn feito para abastecer o mercado norte-americano. Entretanto é fato novamente que mais um artista estrangeiro (e desta vez escocês) fez valorizar mais uma vez a música do nosso paÃs.