Em pouco mais de 3 minutos de canção, todo o lirismo de Paul Simon conseguiu criar uma verdadeira odisseia do descobrimento de como era viver naquele tempo nos Estados Unidos da América – a sempre eterna terra da liberdade e das oportunidades.
Como de praxe, Simon e Garfunkel fizeram um excelente trabalho de arranjos vocais que sempre emociona o ouvinte – até os mais gélidos dos corações podem sentir as emoções carregadas nesta canção. Além disto, como é bom ouvir os ótimos arranjos acústicos das músicas desta dupla.
Inicialmente sem conhecer os meandros da canção, ela pode até parecer patriótica ou ufanista. Mas ao analisa-la podemos perceber que realmente existe sim uma euforia na descoberta da América logo nos primeiros versos. Porém, percebe-se que tal descoberta torna-se entediante a partir da segunda parte da canção. Por fim, na terceira parte a realidade vem a tona quando o autor se sente perdido e um sentimento de vazio o toma ao descobrir a verdadeira América ao chegar numa cidade grande (Nova Jersey), onde todas as pessoas parecem estar perdidas numa busca eterna pelas “oportunidades”.
É incrÃvel perceber que uma música feita há mais de 50 anos ainda tem um tema tão presente nos dias de hoje. Nesta semana que passou, uma foto chocou todo o mundo: Um homem de El Salvador chamado Óscar Alberto MartÃnez e uma criança de quase dois anos chamada Angie Valeria, pai e filha, morreram afogados ao atravessar o Rio Bravo na altura da cidade de Matamoros, que fica no estado de Tamaulipas, no México. A foto foi registrada pela jornalista mexicana Julia Le Duc e comoveu o mundo por destacar o drama das pessoas que deixam seus locais de origem na tentativa de encontrar uma vida melhor na América (EUA) – assim como na canção de Simon & Garfunkel.
Ao longo dos anos muitos artistas fizeram suas releituras de America. Uma das mais marcantes foi a de David Bowie no Concerto para cidade Nova York, um mês após os ataques de 11 de setembro de 2001. Sentado de pernas cruzadas, vestido em bege e acompanhado apenas de uma valsa simples saÃda de um teclado de brinquedo, Bowie fez uma cover de America perfeita para a ocasião. O artista londrino tocou a todos ao executa-la num certo tom de tristeza e melancolia, num momento em que os EUA estava preso no medo do terrorismo e sem a certeza se um futuro melhor chegaria.
Quando uma canção se torna um clássico, ficamos com um certo receio que o artista que vai realizar a cover a estrague com uma releitura inadequada ou crie "malabarismo musical" em sua harmonia. Mas sem dúvida, essa versão do First Aid Kit não foi um caso de fracasso. Pelo contrário, as irmãs Johanna e Klara Söderberg, acompanhada de uma orquestra de cordas, fizeram um excelente trabalho e arrancaram aplausos de pé e lágrimas do autor.
(Este post desta cover é em homenagem a Óscar e Angie).