0478 - So Far Away - Katie Webster [1989]


Katie Webster
estaria com 84 anos se estivesse entre nós. Uma das maiores pianistas de sua geração, reconhecidamente uma das mais talentosas pianistas de blues e boogie-woogie. Sua voz poderosa também era um outro ponto que impressionava. Além disto, também escrevia suas canções. Contudo, apesar de ser uma artista completa, foi talvez uma das artistas menos reconhecidas pela grande mídia. Até por isto este Top Covers será diferente. Quase sempre nos posts deste tópico contamos sobre a história da música original e depois contamos sobre a história da cover. Mas desta vez será diferente pois é uma singela homenagem a essa grande mulher e artista da música.

Pois não é exagero dizer que no blues Katie Webster está para o piano assim como B. B. King está para a guitarra. Não sou especialista (e muito menos tenho tal pretensão), mas tudo que pude pesquisar sobre a “rainha do Swamp Boogie” confirmam este título e atesta sua genialidade. 

Desde criança Katie aprendeu a tocar piano. Seus pais eram muito religiosos e apenas queriam que ela tocasse músicas gospels e clássicas. Quando seus pais saiam de casa, eles trancavam o piano num quarto para que Katie não tocasse outros tipos de músicas ao piano. Como muitas crianças da época, ela ouvia rádio sob as cobertas à noite. Foi nesta época que Katie acabou tomando gosto pelo blues, R&B e jazz. Quando os seus pais se mudaram para a Califórnia, ela, já adolescente, foi morar com os tios na Louisiana. Katie tinha se mudado para o local certo. Com os tios mais tranquilos, ela pode fazer o que realmente gostava. Foi nessa época que Katie Webster se tornou uma das pianistas mais requisitadas pelas gravadoras da região de Louisiana e chegou a gravar mais de 500 singles durante as décadas de 1950 e 1960. Em 1959 ela participou das gravações da música Sea of Love, grande sucesso de Phil Phillips, sendo responsável pelos teclados que ouvimos na versão original.

Em 1964, o jovem Otis Redding conheceu Katie Webster quando ela se apresentava com a sua banda The Uptighters em Lake Charles, Louisiana. Redding impressionado com a jovem Katie logo pediu para que ela se juntasse ao seu grupo. Katie aceitou e durante anos excursionou com a banda de Otis Redding onde foi a pianista principal. 

Em 1967, Katie ficou grávida e não excursionou mais com Otis Redding. Felizmente ela não estava no voo fatal que tirou a vida de Otis Redding. Após o acidente, Katie ficou muito chateada e deu um tempo em sua carreira para cuidar da filha e posteriormente de seus pais.

Ainda na década de 1970, Webster gravou novamente em Louisiana para o selo Shuler Goldband antes de se mudar para Oakland, Califórnia, para cuidar de seus pais. Naquela altura, ela já tinha uma certa reputação entre os colecionadores de discos na Europa, e em 1982 esse pequeno aumento de interesse sobre seu trabalho a levou à Europa para tocar no circuito de festivais de jazz. Durante as décadas de 80 e 90, ela retornou muitas vezes para a Europa, como solo ou ocasionalmente juntamente com o grupo Stars of Boogie Woogie.

Em dezembro de 1997 Katie Webster se apresentou no palco do Bourbon Street em São Paulo e mereceu uma nota curta da Folha de São Paulo para divulgação de seus shows. Uma pena para nós brasileiros que perdemos a oportunidade de ver ao vivo uma das maiores artistas do blues de todos os tempos. Em 1999 após excursionar pela Europa, Katie sofreu um ataque cardíaco e infelizmente veio a falecer.

Entre os fãs de Katie Webster estão Cyndi Lauper e Bonnie Raitt. Bonnie, que fez uma aparição especial no álbum de 1988 de Katie Webster, The Swamp Boogie Queen, disse numa ocasião: "Katie Webster é a voz do século." Uma justa afirmação. Uma voz reconhecida tardiamente em sua carreira com um talento enorme para tocar seu piano e colocar toda sua alma em releituras inesquecíveis. Inesquecíveis como a cover de Katie Webster para So Far Away (que dispensa maiores detalhes por se tratar de um dos grandes hits da década de 1980 da banda Dire Straits). Essa releitura de Katie Webster é cheia de estilo, com um arranjo calcado no blues, bem diferente da versão original.

Quando vejo listas de melhores covers, invariavelmente aparecessem as de sempre, como a versão de Hurt de Johnny Cash ou mesmo a Twisted and Shout dos Beatles. E sempre em listas deste tipo existe o risco de deixar de fora uma ou outra versão. Mas em nenhuma delas vi figurar essa cover para So Far Away feita por Katie Webster. Não pelo fato desta cover ser simplesmente maravilhosa, mas por tudo o que Katie fez e representou para música negra dos EUA. É uma pena que a rainha do Swamp Boogie não tenha tido mais reconhecimento.


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