Os Los Pericos surgido em 1986 sempre hasteou a bandeira do estilo nascido na Jamaica. A banda já vendeu até os dias de hoje algo em torno de 2,5 milhões de discos e possui em seu currÃculo mais de 3000 apresentações ao vivo. Ela é considerada uma das principais bandas de reggae no mundo. Com fãs por toda a Hispano América e com grande reconhecimento inclusive na Espanha, Jamaica e nos EUA, os Los Pericos nunca tiveram um disco de sua carreira de 35 anos lançado no mercado fonográfico brasileiro. E quando se apresentaram por aqui lá no final da década de 90 e inÃcio dos anos 2000, eram no máximo reconhecidos como os autores originais da canção Lourinha Bombril dos Paralamas do Sucesso...
Pois é isto mesmo; precisamos dar todos os créditos para os Los Pericos pois foram eles os autores originais de Lourinha Bombril, que foi concebida e gravada pela primeira vez em 1994 com o tÃtulo original Párate Y Mira, lançado disco Pampas Reggae, quinto trabalho do grupo argentino. Pesquisando sobre as origens desta canção, encontramos uma entrevista ao La Nación do lÃder dos Los Pericos Juanchi Baleirón que disse que a canção Párate Y Mira “é como a música Me Late só que bombada com esteróides" e com uma boa dose de “dancehall, piano salseiro e congas”. Me Late é uma outra canção do grupo lançada em 1992 e que foi inspirada na canção dos Paralamas do Sucesso Melô do Marinheiro.
De fato, com um ritmo bem mais puxado para um reggaeton, dancehall, do que para o reggae de raiz ou ska, Párate Y Mira põe todos para “bailar”.
Então não é surpreendente a opção dos Paralamas selecionarem uma música dos Los Pericos para fazer uma adaptação. A adaptação de Párate Y Mira para Lourinha Bombril é de autoria de Herbert Vianna que, obviamente, tem todos os méritos em trazer uma temática totalmente distinta da original, com uma letra que ressalta a diversidade da cultura brasileira no Mundo.
A letra tem muitos elementos da nossa brasilidade, entre eles, o samba, a mangaba, a mulata, o feijão e até o Pelé. Mas ao mesmo tempo traz também elementos vindos da globalização, como a marca de sorvetes Haagen Daaz, uma cozinheira falando alemão, ou a nossa velha bebida nacional, a cachaça, sendo vendida em vários lugares do mundo. Particularmente há um trecho da letra que gosto bastante: “Caboclo presidente trazendo a solução, livro pra comida, prato pra educação”. Acredito aqui não ser uma crÃtica do Herbert, mas sim um tipo de alerta que mostra o quanto nós brasileiros trocamos as mãos pelos pés quando o assunto é polÃtica e como escolhemos os nossos presidentes.
Se nos anos 2000 ainda se comentava aqui que os Los Pericos eram os autores da canção Lourinha Bombril, hoje, em pleno anos 2020 poucos se lembram deste fato. O curioso disto tudo é avaliar que nós brasileiros pouco conhecemos e reconhecemos a cultura do restante da América Latina, mas os outros paÃses da América Latinas sempre estão atentos aos nossos “produtos”. Tanto é assim que anos mais tarde os próprios Los Pericos fizeram uma versão em espanhol para a canção Mulher de Fases dos Raimundos. A adaptação ganhou o tÃtulo de Complicado Y Aturdido e se tornou também um grande sucesso da banda, com o clipe do show ao vivo de 2017 com mais de 3 milhões de visualizações no YouTube.
Talvez por ser o único paÃs a falar português nas Américas faz com que tenhamos menos integração com os outros paÃses da América do Sul. Talvez os Paralamas seja uma exceção neste Brasil, uma das poucas que mais se aproximaram do rock latino. Mas em pleno século XXI com internet e acesso a tantas informações, o sonho de valorizar e integrar mais a cultura da região em que vivemos ainda é algo utópico.